Eu também sei perdoar...
Sim, recebi a tua mensagem de perdão há uns meses. Aquela em que dizias que "apesar de tudo" o nosso namoro ficou marcado na tua memória como o melhor ano da tua vida.
Sabes que mais? Eu menti quando te disse que para mim não foi um dos melhores anos. Sim, foi perfeito, e tu sabes disso. Mas também sabes, bem lá no fundo, o quanto me fizeste sofrer quando quebraste tudo de um momento para o outro. Sabes bem que durante 3 meses comi pouco mais do que uma maçã por dia. O sentimento de estar viva sem ti era inconcebível, só queria sofrer, entrei numa espiral de auto-flagelação da qual demorei imenso tempo a sair. Não valia nada, só queria desaparecer e nunca mais voltar. Demorei mais de 2 anos a reconstruir-me e outros 2 para conseguir viver sem ti. Nesses anos tive duas relações falhadas, nas quais eu imaginava estar contigo mesmo estando com outro... mas isso nunca o admitirei para ninguém, nem para mim própria.
Sabes que quando vim para França fui sincera na carta que te enviei. Naquela em que dizia que serias sempre o homem da minha vida e que só conseguia imaginar-me a ter netos teus. Depois de ti, a ideia de ter filhos com outro homem provoca-me pânico... será que é porque idealizei essa vida perfeita contigo? Será porque foi contigo que essa realidade esteve mais perto de acontecer e tudo se desvaneceu naquela tarde de Fevereiro sem eu estar à espera?
A verdade é que tive que abandonar aquela casa que sonhámos ter, aquela vida a dois que planeámos, aqueles filhos de olhos verdes que ia ter contigo, num dia perfeito que aconteceria numa sucessão infinita de outros dias mais-que-perfeitos... e custa abandonar os sonhos, oh se custa. Só agora estou a conseguir sonhar outra vez, e a vida tem-me dado muito material para sonhos, oh se tem.
Já se passaram mais de dois anos desde que os abandonei (os sonhos partilhados contigo!), no entanto, o que escrevi naquela carta tem perdido o sentido pouco a pouco. Já vivi outros bons momentos e agora a minha realidade é outra. É como se tudo tivesse acontecido numa outra vida. Não te consigo dizer isto e acho que nunca te direi na cara, porque não consigo olhar para ti sem sentir ódio e raiva. Mas escrevo-o aqui, mais para desabafar do que para ser lido por alguém: um dia vou perdoar-te, sei que sim. E esse dia já esteve mais longe.