Deixar a sua marca.
O colhão com pernas foi embora e eu pensava que ia ser assunto para várias semanas. Afinal já ninguém se lembra dele. Que vida madrasta esta que permite que uma pessoa trabalhe 22 anos num sítio e seja esquecida mal vira a esquina. Isto faz-me pensar muito. Às vezes penso demais. Gostava de acreditar que quando sair deste local de trabalho, deixarei uma marca. Que alguém, nem que seja uma pessoa, vai continuar a falar de mim. Isto tudo faz-me pensar no filme Coco. Para continuarmos a viver no "além" alguém tem que se lembrar de nós em vida. Mas não é fácil ser lembrado quando se sai de um local de trabalho. É preciso fazer-se algo de realmente especial. Eu tento sorrir todos os dias, mesmo quando estou cansada e quase a cair para o lado a olhar para aqueles colegas de merda que tenho. Opah... hoje estavam lá num canto a fazer exercícios com os halteres em frente aos doentes. Que falta de profissionalismo. Apetecia chegar lá e dizer "pagam-te para fazeres estas merdas no trabalho?". Crianças. Ainda bem que a maior parte se vai embora daqui a umas semanas. Sim, porque como não podíamos ir todos de férias de Natal ao mesmo tempo a malta toda decidiu despedir-se para deixar a entidade patronal em maus lençóis...
Esta gente sente-se tão entitled, como se o mundo lhes devesse tudo. Como se fosse impossível continuar a viver enfrentando uma contrariedade. Tenho pena deles, exteriormente fico com a sensação que eles conseguem sempre levar a deles avante, mas por dentro devem ser miseráveis. Imagino-os em ponto pequeno, com 5 anos, a chorar enrolados em posição fetal porque os paizinhos não lhes deram o brinquedo para brincar, ou não serviram o jantar que eles queriam, ou tiveram o desplante de lhes dizer um "não".
Se a vida desmoronasse ou toda a gente se despedisse, só porque ouviu um não do chefe, este mundo estava todo fodido. Ainda mais do que aquilo que já está. O mais incrível nisto tudo, é que esta gente quando for embora vai deixar uma marca e os que fazem o bem são logo esquecidos.